Estava arrasada, chocada e sem forças para acreditar que a minha filha iria sofrer tamanha decepção, por culpa do irresponsável do pai dela, em um dos dias mais importantes para ela, o seu próprio aniversário. Tentei respirar fundo, colocar a mente em ordem, e pensar em uma forma de contar a minha filha que o pai dela não vai aparecer amanhã, porém eu não fazia ideia de como iria fazer isso sem despedaçar aquele puro coração.
-Mari, será que você pode me ajudar aqui rapidinho?-fui até a sala disfarçando meu choro e indignação, e chamei minha amiga
-Claro Beca, o que precisa?-disse Mari me acompanhando até o meu quarto, onde fechei a porta e ela já percebeu que eu não estava bem-que cara é essa? o que aconteceu?
-O seu irmão não vai vir amanhã-deixei lágrimas caírem e ela me olhou arregalada
-Como não? ele disse tantas vezes que viria e...
-Mari, ele acabou de me ligar, e me falar na maior cara de pau que vai dar uma entrevista super importante, e por isso não vai vir no aniversário da Letícia-a olhei irritada e ela estava desacreditada
-O Luan não está falando sério, vou tirar isso a limpo agora, o meu irmão não é louco de fazer isso...-disse Marina super irritada pegando o celular e ligando para o irmão
Me deitei em minha cama frustrada, apenas vendo minha amiga andando de um lado para o outro do meu quarto, enquanto o Luan não a atendia, pois eu já sabia que isso não iria dar em nada, e que ela só iria descobrir o idiota que o irmão dela sempre foi, mas ela nunca percebeu. Ouvi ela falando irritada com ele, quando ele a atendeu, e nunca vi minha amiga com tanta raiva assim, pois exigia que Luan viesse e largasse o programa, usou palavras de baixo calão, e por fim o mandou para a puta que pariu desligando frustrada e quase arremessando o próprio celular no chão.
-Eu desconheço esse tal Luan Santana como irmão, que homem fraco e idiota ele está se tornando, não quero mais ser irmã de alguém assim
-Eu te falei Mari, ele não se importa-suspirei a olhando e ela ainda bufava de raiva
-O Luan pode ter errado feio com você, ser mulherengo, tentar colocar o meu namorado no mal caminho, mas nenhuma dessas idiotices que ele faz ou já fez, se compara com a burrice de não vir no aniversário da Letícia, ela não merece essa dor, essa tristeza-Marina estava com tanta raiva que começou a chorar-ele pode até fazer algo comigo que sou a irmã gêmea dele, mas com a Letícia eu não vou aceitar, não quero a minha pequena sentindo que é rejeitada pelo próprio pai, que não é prioridade na vida dele
-Também não quero isso amiga-chorei junto com ela-mas nós precisamos fazer a Le se sentir feliz, se sentir amada, e tentarmos suprir a falta do Luan, porque eu não sei como contar a ela que ele não vem
-Será que a minha mãe e a Bruna sabem disso? preciso contar a elas que o Luan não vem, tenho certeza que a minha mãe vai ficar muito chateada com isso
-A dona Marizete não merece esse desgosto, mas já que o filho dela quer fazer essa graça, então ela precisa saber o que está acontecendo
Fiquei um tempo com Marina no meu quarto, onde ela ligou para a mãe e a irmã, contando que o Luan não viria no aniversário da Letícia, e elas também ficaram chocadas e desacreditadas, pois não esperavam essa atitude dele. Mesmo irritadas e inconformadas que o Luan não vai aparecer amanhã, precisávamos sair do meu quarto e disfarçar para a minha filha que tudo estava bem, porque eu não queria desanimar ela para a festa de amanhã, já que ela estava empolgada, e contando os minutos para o dia acabar e a festa dela acontecer. As horas pareciam passar lentamente, até que anoiteceu, jantamos, e eu convenci a minha filha a dormir mais cedo, para que ela esteja mais disposta no dia seguinte.
-Boa noite meu amor, agora você precisa descansar, para aproveitar bastante a sua festa amanhã
-Mas eu não tô com sono mamãe, não queria vir dormir agora
-Mas precisa dormir mocinha, sem teimosia-sorri a dando um beijo na testa-dorme com os anjos
Coloquei Letícia para dormir, e meu peito estava despedaçado, pois no dia seguinte eu não iria saber o que falar, ou o que fazer quando ela perceber que o pai dela não apareceu e nem vai aparecer em sua festa.
-Essa noite vai ser difícil de passar-respirei fundo me deitando em minha cama com o meu cachorro, após colocar minha filha para dormir-só espero que no final dê tudo certo-suspirei tomando um calmante para ver se dormia mais rápido
No dia seguinte acordei com o meu celular despertando, e me lembrei que era uma data especial, então sorri me lembrando da benção que era ser mãe, e de que há seis anos atrás eu estava colocando no mundo a minha filha, era muito bom acordar com esses pensamentos, então movida pela emoção, sem me preocupar em escovar os dentes, nem nada, fui direto para o quarto da minha filha, onde iria acorda-la com muitos beijos, a dando parabéns.
-Parabéns para você, nessa data querida...-entrei cantando parabéns no quarto da minha filha, quando levei um susto vendo que Marina estava ali dormindo, toda apertada com a minha filha, e as duas quase caíram no chão de susto-feliz aniversário meu amor-vi ela acordar e fui a encher de beijos
-Obrigada mamãe-sorriu sonolenta
-Feliz aniversário minha pulguinha-disse Marina se espreguiçando e abraçando minha filha
-Posso saber porque sua Dinda folgada dormiu aqui?-perguntei para minha filha, fingindo estar brava
-Porque eu pedi-disse rindo sapeca e Marina deu risada
-Agora aguenta as consequências, por preferir dormir com a sua madrinha, ao invés da sua mãe-disse começando a fazer cócegas nela e ela gargalhava
-O nome disso é ciúmes-disse Marina se levantando toda desajeitada da cama da minha filha
-O nome disso é ser mimada pela Dinda, não é dona Letícia-disse parando de a fazer cócegas e minha filha ainda ria tentando recuperar o folego
-É que eu te vejo todo dia mamãe, e a Dinda é só ás vezes-minha filha explicou
-Então vai passar uma temporada com sua Dinda, para ver se aguenta dormir com ela todo dia-ri a implicando
-Se quiser, essa noite durmo coladinha com você, para você parar de ciúmes-disse Marina rindo
-Tenho namorado, então não preciso disso-ri a olhando-mas e você mocinha, hora de levantar, tomar banho, se arrumar e ficar bonita, porque temos uma festa de aniversário para ir
-Minha festa-disse Letícia toda animada
-Sua festa meu amor, seu dia, então bora tomar banho minha porquinha
-Também preciso de um banho, então vou para o quarto de hóspedes-disse Marina saindo do quarto
-Você não tomou banho mamãe, nem escovou os dentes, porque ta com bafinho-disse Letícia tampando o nariz e eu comecei a rir
-Tem razão, mas só vou para o meu banho depois que a senhorita for para o seu, então deixa de preguiça mocinha
Fiquei curtindo a preguiça com minha filha um pouquinho, até ela ir tomar banho, deixei a roupa dela separada em cima da cama, e fui conferir se ela estava tomando banho certinho, porque ela já toma banho sozinha, mas eu ainda fico de olho, porque ela gosta de enrolar brincando embaixo do chuveiro. Nossa manhã começou com muita alegria, e muitos mimos para a minha filha, pois a minha mãe havia feito um pedido especial de café da manhã, só com coisas que a Letícia gosta, o meu namorado e o meu cunhado Leandro acabaram aparecendo em nosso apartamento para darem os parabéns para a minha filha, e já ficaram para nos fazer companhia no café da manhã, o que a deixou muito feliz, pois sei o quanto ela gosta de todos nós e de ser o centro das atenções.
-É tão legal fazer aniversário, todo mundo me da presente, me deixa comer o que eu gosto...-Letícia dizia pensativa enquanto eu penteava os cabelos dela e nós duas conversávamos
-Aproveita mesmo, porque depois de certa idade a gente lamenta fazer aniversário e estar ficando mais velha
-Ainda bem que ainda sou pequena-riu me olhando
-Nem tanto, parece que acordou bem maior hoje, vamos medir?-a perguntei e ela sorriu animada, pois gostava de acompanhar seu crescimento em uma régua colada na parede em formato de girafa que o Léo deu a ela
-Já ta do meu tamanho?-levei um susto com Léo entrando no quarto enquanto eu marcava a altura da minha filha
-Ainda falta muito tio Léo, você é adulto e eu sou criança-minha filha o explicava
-Mas está bem crescidinha, já aumentou uns 10 cm desde que te conheci-disse Léo
-Não exagera amor, foram quase 2,5 cm só, minha filha não é um gigante
-Mas o meu papai é alto, será que vou ficar igual ele mamãe?-Letícia enfim lembrou do pai e eu já respirei fundo
-Talvez-disse com um sorriso amarelo e pensando no que iria falar para ela não perguntar do pai, mas isso era inevitável acontecer
-Que horas ele vai chegar mamãe? será que vai trazer muitos presentes pra mim?-disse toda animada, e meu coração estava despedaçado vendo ela cheia de expectativas, que não seriam correspondidas
-Com certeza quando ele chegar, vai te encher de presentes-disse tentando não soar irônica, pois sabia que Luan realmente iria fazer isso, numa tentativa falha de se desculpar com ela assim que tivesse oportunidade-mas que tal abrir os presentes que já ganhou? você nem mostrou ao tio Léo
-É mesmo, vem ver tio, os presentes que eu já ganhei-minha filha saiu toda feliz puxando o meu namorado e eu respirava fundo tentando não transparecer o quanto estava mal, por saber que a qualquer momento a minha filha iria descobrir que o pai dela não iria aparecer
A parte da manhã passou voando, e após um almoço especial que o meu pai fez questão de fazer na casa dele para a minha filha, com a presença de todos que a Letícia ama, inclusive com os pais, as irmãs e os cunhados do Luan, e alguns parentes por parte dele que a minha filha era mais apegada. Enfim, todos foram se arrumar para passar o resto da tarde na festa da minha filha, que já me enchia a paciência de tanto que perguntava que horas iriamos para a sua festa. Estava tudo perfeito, a decoração impecável, cada detalhe estava do jeitinho que imaginei, e minha filha já chegou querendo ir nos brinquedos malucos que Marina alugou. Logo começaram a chegar os coleguinhas da minha filha, alguns conhecidos dos meus pais, familiares, e a festa foi se enchendo de gente, eu andava de um lado para o outro cumprimentando todo mundo, vez ou outra procurava minha filha com o olhar, mas eu sabia que ela estava se divertindo e bem segura, pois sempre tinha alguém perto dela seja para tirar fotos, a dar parabéns, ou perguntar se ela estava gostando da festa, o que era bem óbvio para uma criança de 6 anos. O ápice da festa foi quando magicamente a princesa Ariel chegou com seus amigos do fundo do mar, as crianças pararam para ver a entrada da princesa, que interagia com as crianças, cantava, e claro que tratava minha filha como uma princesa, a deixando toda feliz com a chegada dos personagens, que ela nem fazia ideia que iriam aparecer, e claro que isso era obra da minha mãe, Marina e companhia, que queria deixar tudo o mais perfeito e mágico possível, para a festa da Letícia ser inesquecível.
-Le, já vamos cantar parabéns, porque tem gente querendo comer bolo e alguns precisam ir embora mais cedo-avisei minha filha tentando a tirar do pula pula
-Oba, meus parabéns-ela desceu animada do brinquedo, e mesmo toda suada, com a roupa suja de tanto correr e se esfregar nos brinquedos, ela estava nem aí e foi do jeito que estava para cantar parabéns
Fiquei ao lado dela na mesa do bolo, e claro que esse era um dos momentos mais marcantes da festa para quem é a aniversariante, Marina como madrinha babona ficou do outro lado da minha filha, e todos em volta tirando fotos, filmando, quando percebi que Letícia estava inquieta, olhando ao redor, e parou olhando pensativa para um dos personagens.
-Papai, eu sei que é você, pode vir cantar parabéns comigo-disse toda desinibida e crendo que era o pai dela na fantasia de caranguejo
-Le, vamos cantar parabéns, deixa o caranguejo quieto-sussurrei para ela, tentando disfarçar e sorrindo amarelo, pois sabia que ela iria se frustrar
-Papai, sai dessa fantasia, é meus parabéns agora-ela insistiu de novo, e algumas pessoas começavam a cochichar entre si e eu estava ficando agoniada
-Filha, eu e sua madrinha estamos aqui com você e...
-Mas o meu pai tem que cantar junto comigo mamãe, eu sei que o caranguejo é ele, não é?-Letícia me olhou com os olhos marejados, começando a entender o que estava acontecendo e o meu mundo caiu-cadê o meu pai?-ela olhou de mim para a multidão de pessoas a nossa volta, e todos estavam com olhar de lamento, entendendo o que acontecia ali
-Le, meu amor-me abaixei na altura dela-eu nem sei como te dizer isso-suspirei pesado e respirei fundo, criando forças-o seu pai teve um imprevisto e infelizmente não deu para ele vir-a olhei firme, me fazendo de forte para não chorar, pois já via lágrimas escorrendo no rostinho dela-não esquece que eu amo você, e todos que estão aqui também amam muito você-enxuguei as lágrimas que caiam do rosto dela-então vamos cantar parabéns para você, porque hoje é seu dia, é sua festa, e todos aqui querem ver você sorrindo meu amor-fiz carinho em seu rostinho e ela assentiu cabisbaixa
-Mas o meu pai não ta aqui, então ele não me ama-disse olhando para o chão e eu não sabia como reagir, vendo ela sofrer por conta do idiota do Luan, então só pude abraça-la sentindo o meu peito doer, por vê-la triste
-Le, vamos cantar parabéns, não quero ver minha pulguinha triste-disse Marina se abaixando perto de nós e minha filha estava com cara de choro
-Mamãe, eu quero ir embora-disse escondendo seu rosto em meu peito
-Daqui a pouco a gente vai-só pude dizer isso, em um fio de voz, pois minha vontade era chorar abraçada a ela
-Ficou envergonhada Letícia?-disse Marina tentando animar o clima, que ficou melancólico e pesado-pode perder essa vergonha, porque vamos começar a cantar, um, dois, três, parabéns para você...
Marina puxou o coro do parabéns, e logo todos estavam cantando parabéns a Letícia, enquanto ela ainda estava abraçada comigo, e não demonstrou nenhum entusiasmo até na hora de apagar as velinhas, pois pediu pra mim fazer isso junto com ela, que após apagar as velas voltou a me agarrar, e nem quis cortar o primeiro pedaço de bolo junto comigo, pois agora só queria o meu colo. Depois dos parabéns, Letícia perdeu toda a animação, e chorou muito querendo que a festa acabasse para irmos embora, sem contar que ela estava começando a fazer malcriações na frente das pessoas para me envergonhar, e eu estava ficando estressada com o comportamento dela, que até falou para umas crianças pararem de brincar, porque a festa era dela e já tinha acabado. Para não fazer feio com os convidados, resolvi ir embora com a Letícia dando desculpas que ela estava passando mal por comer muitos doces, pois eu sabia que se ela continuasse ali, só iria fazer mais malcriação, então Marina e minha mãe ficaram na festa de olho nas crianças que ficaram, e fazendo companhia aos outros convidados, enquanto Léo decidiu nos levar de volta para casa, pois sabia que eu não estava em condições de dirigir, e acho que ele no fundo tinha medo de deixar nós duas sozinhas, porque quando a Letícia me estressa eu perco a razão.
-Não bate a porta Letícia-a avisei, vendo ela entrar em seu quarto batendo o pé e fechando a porta com tudo
-Vai me explicar o que aconteceu?-Léo perguntou me olhando
-O idiota do pai da minha filha, é tudo culpa daquele infeliz-disse com raiva, só de pensar nele
-Ele não iria vir mesmo, ou aconteceu alguma coisa?
-Ele não veio porque não quis, e Léo, é melhor você ir embora, e me deixar sozinha-o avisei, pois não queria brigar com ele, e se ele continuasse me questionando iria explodir toda minha raiva em cima dele
-Você e a Le vão ficar bem?-perguntou me olhando e assenti-se precisar conversar, ou de qualquer coisa, sabe que é só me chamar
-Eu sei que sim-suspirei o olhando-obrigada por se preocupar com a gente, e desculpa a minha grosseria
-Sei quando você precisa de espaço meu amor, fica bem e não esquece que eu amo você-disse dando um beijo carinhoso na minha testa
-Também amo você
Deixei Léo ir embora e desabei no choro, me culpando por ter dado um pai tão idiota e irresponsável para a Letícia, não queria ver minha filha triste, muito menos se sentindo desprezada e sem amor, então enxuguei minhas lágrimas, respirei fundo e entrei no quarto da minha filha, a vendo deitada em sua cama embaixo de nem sei quantas cobertas, e aos poucos fui tirando as cobertas de cima dela, a vendo toda encolhida e chorando.
-Meu amor, o que eu posso fazer por você?-me sentei ao lado dela e ela nem me olhava, só queria chorar
-Mamãe, você me ama?-perguntou me olhando de relance, com os olhinhos cheios de lágrimas
-Você é a minha vida Letícia, eu te amo mais que tudo nesse mundo-disse a fazendo carinho
-Mas porque o meu pai não me ama? ele só mente pra mim mamãe, o que eu fiz de errado pra ele não gostar de mim?-me olhou de uma maneira tão triste, que meu coração se partiu ao meio
-Le, o seu pai vive em prol do trabalho dele, mas no fundo ele te ama-respirei fundo, e pensei no que iria dizer, pois de certa forma eu não quero faze-la odiar o próprio pai, mesmo que ele mereça-eu sei que ele queria muito estar aqui hoje, mas ele não pode vir porque...
-Se ele quisesse mesmo vir, ele viria, ele tem jatinho-disse minha filha de uma forma ríspida
-Filha, eu sei que você ficou triste com isso, mas pensa nas pessoas que estavam presentes, no quanto todo mundo se empenhou em te fazer sorrir, e no quanto você recebeu de carinho dessas pessoas
-Será que eles me amam mamãe?-perguntou com os olhinhos marejados
-Tenho certeza que sim-sorri para ela fazendo carinho em seu rosto-agora vem cá minha princesa, porque quero ficar bem agarradinha em você-me deitei ao seu lado em sua pequena cama, e a aconcheguei em meus braços
-Mamãe, você promete que nunca vai me abandonar?
-Claro que eu prometo meu amor, nunca, nunca, nunquinha nesse mundo, eu vou abandonar você-disse beijando sua testa
Fiquei dando colo e carinho para a minha filha, até perceber que ela dormiu, pude ouvir vozes vindo da sala, então me levantei devagar, para não acordar a Letícia, e constatei que minha mãe e Marina já haviam chegado, e estavam tão arrasadas quanto eu, por saber que o dia mais feliz da vida da Letícia, se tornou um dia triste para a nossa pequena. Os pais do Luan apareceram no nosso apartamento se sentindo envergonhados pelo Luan não ter aparecido, e Amarildo explicou a situação, tentou aliviar a barra para o lado do filho dele, contando o tanto que Luan tentou adiar a tal entrevista, mas infelizmente não conseguiu, e teve que permanecer no México contra a própria vontade. Bruna também estava muito irritada com o irmão, e até discutiu com Amarildo na nossa frente, pois o pai deles sempre consegue intervir nesse tipo de coisa já que é o empresário do Luan, e para não criar um clima mais chato do que já estava, ela e Raphael decidiram sair para alguma balada ou restaurante do Rio, Matheus pensou em ir junto com os cunhados e levar Marina, mas minha amiga não queria me deixar sozinha, e muito menos ficar longe da Letícia, pois sabe o quanto minha filha é apegada a ela, e que vai querer muito o colo e os mimos da madrinha quando acordar. Já era sete da noite quando Letícia acordou em meio a gritos e choro, assustando todo mundo, claro que corri para acalmar minha filha, e Marina foi junto comigo, pois minha pequena precisava se sentir segura com a gente, e receber o máximo de carinho possível, após o momento traumático e doloroso que passou.
-Oi princesa da vovó, que bom que acordou-disse minha mãe entrando no quarto, enquanto eu e Mari acalmávamos Letícia-olha quem veio ver a irmã-riu abrindo mais a porta para Bruno entrar, pois ele sentia que a irmã humana precisava dele
-Bruno-minha filha finalmente deu um sorriso ao ver nosso cachorro
-Vem filho, sua irmã precisa de você-o peguei no colo e coloquei em cima da cama dela, onde ele já chegou a lambendo e a fazendo rir, o que aliviou o meu coração
-Esse cachorro faz milagres-disse Mari
-Com certeza faz, por isso amo tanto o meu filho peludo-alisei os pelos dele e ele veio me lamber também, mas logo voltou a lamber Letícia, que adorava brincar com ele
Minha mãe e Marina saíram do quarto, para não deixarem os pais da Mari e o Matheus sozinhos na sala, e eu fiquei tentando distrair Letícia junto com Bruno, que estava conseguindo a deixar um pouco melhor e mais feliz. Com muito custo convenci minha filha a ir tomar banho para depois irmos jantar, e ela não queria sair do quarto, muito menos ver ninguém, então ficou bicuda com os avós, dando mal resposta, e mal comeu o jantar, jogando tudo para o cachorro no chão, e depois voltando para o próprio quarto batendo a porta.
-Acho que ela não gostou de ver a gente aqui-disse Marizete se sentindo culpada pelo comportamento da neta
-Não é culpa de vocês dona Marizete, é culpa do filho de vocês-fui sincera e ela respirou fundo assentindo
-Dessa vez não posso negar que o Luan tomou a pior decisão possível, ao invés de estar aqui com a gente e com a minha neta-ela concordou comigo
-Mas não vamos ficar crucificando ele pelo resto da vida, eu sei o quanto ele queria estar com a Letícia hoje-disse Amarildo, o defendendo outra vez
-Se quisesse mesmo, ele a colocaria como prioridade pai-disse Marina-porque eu acho que quando um pai ama o filho, é isso que ele faz, não é
-Sim-Amarildo respirou fundo, sentindo que isso soou como indireta para ele
-É melhor voltarmos para o hotel querido, não quero mais incomodar vocês-disse dona Marizete nos olhando
-Vocês não estão incomodando Mari, mas para todos os efeitos, até a raiva da Letícia passar, é melhor que não estejam por perto
-Eu também preciso ir?-perguntou Matheus nos olhando, e olhando para Marina, pois ela estava hospedada no meu apartamento
-Você pode ficar meu amor-disse Marina-ele pode ficar Beca?-ela me olhou e assenti
-Não ficando de safadeza na minha casa, ele pode ficar-ri os olhando
-Ainda bem, porque eu meio que já deixei minha mala aqui-disse Matheus meio sem jeito
-Então eu e o Amarildo vamos embora, e por favor, me manda notícias da minha neta, não quero a minha princesinha triste-pediu com o olhar de avó preocupada
-Pode deixar Mari, eu te ligo amanhã para falar da Letícia
Nos despedimos dos pais da Marina, e enquanto minha mãe foi recolher a mesa do jantar junto com minha amiga, e Matheus foi tomar banho no quarto que a Mari está hospedada, eu fui atrás da minha filha, pois mesmo que ela esteja fazendo birras e malcriações, eu sei que ela não quer ficar sozinha, quer apenas se sentir amada e protegida por mim.
[...]
Dois dias se passaram, e foram dias bem turbulentos, com a Letícia não querendo dormir sozinha, chorando por tudo, tendo oscilação de humor, e dando trabalho até para ir na escola, já que a festa dela foi no final de semana, e agora já era segunda feira, e ela precisava voltar a rotina de vida normal, nem que fosse a força. Com muito custo, após muito choro e birra, minha mãe convenceu Letícia a ir com ela para a escola, a prometendo que se ela quisesse ficar na sala da direção com a vovó, ela iria deixar, e como minha mãe faz tudo o que a minha filha quer, eu sabia que ela iria na escola só para ficar brincando e ajudando minha mãe na sala da direção, o que seria um alivio para mim que queria um pouco de descanso e colocar a cabeça em ordem, pelo menos agora que vou ter paz, e estar sozinha em casa. Decidi tirar um dia só para descansar, nem liguei para o trabalho, já até avisei meu pai que não iria aparecer na empresa hoje, e como Marina voltou para São Paulo, e o Léo estava de plantão, eu estava bem sozinha e sossegada, apenas na companhia de Bruno, que me acompanhava pela casa enquanto eu decidia o que fazer, o que comer, ou apenas ficava deitada vendo TV e vagando em minhas ideias. Me sentei no chão da sala comendo um pote de sorvete de doce de leite, com Bruno entre minhas pernas, enquanto assistia um programa de culinária, quando ouvi a campainha tocar, pelo horário era pouco provável ser minha mãe, pois ela iria ficar até á tarde na escola juntamente com Letícia, o meu namorado está no hospital, então poderia ser o meu cunhado, que ás vezes ficou atoa na academia e veio me ver, sabendo que eu estava numa bad total. Cheia de preguiça fui abrir a porta, com Bruno latindo no meu pé, então não vi quem era pelo olho mágico, e quando abri a porta, tive vontade de fechar na mesma hora e quebra-la na cara dele.
-O que faz aqui Luan? você é muito cara de pau em aparecer aqui-o olhei irritada
-Beca, eu já estou péssimo, então por favor, me deixa entrar e ver a Letícia-disse cabisbaixo, tirando seus óculos escuros do rosto, e expondo suas olheiras gritantes
-Você é tão bom pai, que nem sabe que ela está na escola nesse horário, mas que bom que veio, tenho umas coisas para falar com você mesmo-o encarei e abri passagem para ele entrar
-Pode começar a acabar comigo Rebeca, eu sei que mereço-suspirou pesado me olhando, após adentrar o apartamento
-Luan, eu não vou gastar meu vocabulário com você, porque você tem total consciência do que fez, então vou me poupar de te falar aquilo que você já sabe
-Que bom que vai evitar chutar cachorro morto, porque o que eu já ouvi das minhas irmãs e da minha mãe...-ele suspirou chateado
-Elas estão certas, e você sabe disso, agora me fala, porque veio aqui?
-Porque eu quero ver a Letícia, me desculpar com ela, me retratar, sei lá... tentar mostrar para ela que eu não fiz por mal-ele falava com os olhos marejados-eu me sinto o pior pai do mundo, e eu sei o quanto machuquei a minha filha, isso não me deixa dormir tranquilo a dias, eu só quero olhar nos olhinhos dela, e falar que eu a amo mais que tudo nesse mundo, mas que infelizmente eu sou fraco demais, e fiz coisas das quais me arrependo, que a magoaram-ele deixou lágrimas caírem-então pelo amor de Deus, me ajuda Rebeca, não me trata como um monstro, e não deixa a Letícia pensar isso de mim
-Luan, acontece que você mesmo causou isso, eu não posso fazer nada para mudar o pensamento da Letícia em relação a você
-Você é mãe dela, ela confia em você, então me ajuda, você a ama tanto quanto eu, nós dois temos que nos ajudar para cuidar dela e...
-Não Luan, não temos que nos ajudar, porque você soube que era pai quando ela já tinha quase um ano de idade, demorou se importar com ela, demorou agir como pai, e você sabe que fez muito pouco por ela, deu mais importância a mulheres, festas, farra, sua carreira, tudo você colocou em primeiro lugar, enquanto que eu quem estava colocando a Letícia como prioridade na minha vida, mesmo no meu pior momento, quando eu achei que iria morrer com aquela doença, o meu pensamento todos os dias era nela, em que destino teria a minha filha se algo acontecesse comigo, pois com o exemplo de pai que ela tem, provavelmente ela iria crescer infeliz
-Então é isso que pensa de mim? que eu faço a Letícia infeliz?-me olhou com os olhos inundados em lágrimas
-Com as atitudes que você vem tomando, com certeza é isso que ela sente quando lembra que você é o pai dela-suspirei o olhando com sinceridade
-Sou um homem de merda mesmo, devia ter morrido, mas nem morrer em paz eu consegui, de tão ruim que eu sou-chorava desolado
-Luan, você não é uma pessoa ruim...-fui até ele, tentar acalma-lo
-Eu sou sim, que homem que é bom pai e bom ser humano, que faz o que eu fiz? eu sou um mentiroso, manipulador, sou egoísta e egocêntrico, porque ainda tem gente que me ama e me admira? eu não mereço isso, sou uma farsa-ele chorava enquanto detonava a si mesmo
-Você precisa se acalmar Luan, tudo bem que você é tudo isso, mas não é o fim do mundo, você ainda pode se retratar, pode tentar ser melhor, o mais importante é reconhecer seus erros, e tentar mudar daqui para frente
-A questão é essa Rebeca, será que eu consigo mudar?-me olhou com um olhar de perdido, enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto, e eu nada poderia dizer, nada poderia fazer, pois só ele sabe o fardo que está carregando por conta de seus próprios erros
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Olá amoreees, sei que sumi, é por conta da vida adulta que não é fácil, mas confesso que senti saudades de escrever e de interagir com vocês, então vou tentar me esforçar para terminar a história, e vocês comenteeem bastante, quero saber quem ainda está acompanhando, e torcendo para que a história continue, beijos.