quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Capitulo 2 - A carta.

-Moça? Marina? ainda quer falar comigo?-ouvia Luan me chamando do outro lado
-Oi, sim-disse após ficar alguns minutos pensativa e sequer prestar atenção no que ele dizia-desculpa, é que eu ainda não acredito que você realmente me ligou
-E eu ainda não sei se acredito por completo, naquela carta que você me deu-o ouvi suspirar-porém eu senti que devia te ligar, depois que li e reli a carta, é uma história forte, que não consegui dormir pensando se você inventou tudo isso só para me intrigar, ou se realmente existe alguém capaz de fazer tamanha loucura como a sua mãe fez
-Te entendo Luan, eu levei semanas para superar tudo isso, e tomar alguma atitude, desculpa entrar na sua vida dessa forma, mas é que eu realmente sinto que somos ligados e...
-Olha, eu vou te dar um voto de confiança-o ouvi suspirar e senti que deveria estar tenso do outro lado-isso vai parecer loucura para qualquer um que eu contar, mas eu preciso conversar melhor com você, então pensei que podíamos nos encontrar amanhã de manhã no restaurante Paris 6, o dono é amigo meu, e se eu falar que é para uma reunião ele vai me ceder um local reservado por algumas horas
-Eu conheço o restaurante, já fui várias vezes com os meus amigos, mas me fala certinho o horário que você vai poder ir e...
-Me espera a partir das oito da manhã, que eu vou dar um jeito de sair do hotel sem ninguém desconfiar de nada
-Tudo bem, eu estarei lá desde ás sete se for preciso-disse ansiosa
-Estou confiando em você, então se eu chegar lá e perceber que é algum tipo de armação, saiba que você nunca mais vai ter outra chance de me ver na sua vida-disse sério
-Eu jamais faria isso com você Luan, eu vou estar lá sozinha, pode confiar em mim, eu só quero encontrar o meu irmão
-Então nos vemos logo
-Sim-disse feliz-até daqui a pouco

Luan desligou o celular, e se eu já estava sem sono antes, agora que eu não iria conseguir dormir de tanta ansiedade e felicidade que não cabiam em mim, estava tão perto de tudo dar certo, e no fundo eu sentia que depois desse encontro com o Luan, minha vida iria mudar. Eram quase seis horas da manhã quando fui tomar banho e me arrumar para ir ao Paris 6, como eu estava na casa de Natália, e ela ainda dormia, tentei fazer nenhum barulho enquanto olhava em seu enorme closet algo que eu pudesse vestir, acabei pegando qualquer roupa, e depois eu a avisaria sobre as peças que peguei emprestadas. Após me arrumar chamei um uber pelo aplicativo, e eram quase sete da manhã quando cheguei em frente ao restaurante. As horas pareciam não passar, e eu mais uma vez pensava em milhões de coisas para dizer a ele, olhava a todo instante em meu celular para ver se algum número desconhecido me ligaria, o que só fazia aumentar a minha ansiedade. Sem nada para fazer, ou ninguém para conversar, me lembrei de Beca, ela não sabia que eu havia descoberto quem era o meu irmão, e muito menos que havia ido atrás dele, me sentia em falta com ela por não ter contado a verdade, e mesmo sabendo que ela ainda devia estar dormindo, comecei a ligar, até que ela me atendeu com sua voz de tédio e sono.


-Oi, o que...
-Beca, você não vai acreditar-disse eufórica com tanta novidade para contar a minha amiga
-No que?-perguntou com preguiça
-Eu encontrei o meu irmão
-Irmão? que irmão?-acho que ela estava demorando processar o que eu dizia
-Você sabe, da carta da minha mãe, era tudo verdade Beca, eu encontrei minha verdadeira família-disse com voz de choro, pois eu realmente estava feliz em estar tão perto da verdade
-Espera, calma-disse dando uma pausa, com certeza ela queria ouvir melhor-me conta isso direito...
-Eu tenho tanta coisa pra gente conversar amiga-dizia emocionada-mas eu prometo te contar todos os detalhes depois, só te liguei pois precisava dividir isso com alguém-percebi que um carro preto com os vidros fumê havia parado em frente ao restaurante
-Ta bom, mas...
-Beijo, também te amo-disse desligando assim que percebi que alguém iria descer do carro

Meu coração acelerou, e me frustrei ao ver que era apenas alguns funcionários do restaurante. Esperei abrirem a porta, e como estava cansada de ficar em pé a tanto tempo, entrei e procurei por uma mesa, me sentando naquele sofá aconchegante. Eu não conseguia disfarçar que estava ansiosa, então fiquei folheando o cardápio que estava em cima da mesa, e percebia os olhares atentos dos funcionários sobre mim, pois com certeza foi muito suspeita a minha atitude de estar esperando eles abrirem.


-Bom dia, vai fazer algum pedido?-disse uma moça se aproximando de mim

-Vou sim-disse sem nem prestar atenção nas opções do cardápio-quero um cappuccino pequeno
-Tradicional?
-Sim-assenti e ela saiu dali anotando o meu pedido

Já estava no meu terceiro cappuccino, e sem esperanças de que Luan apareceria, afinal ele era uma pessoa famosa, não sei como pude acreditar que ele realmente iria vir conversar comigo, com certeza ele pensou melhor e achou loucura ter marcado esse encontro com uma desconhecida. Já se passava das nove da manhã, e ali estava começando a crescer o movimento, agora que ele não iria vir mesmo, olhei em meu celular sem esperanças de pelo menos ter uma desculpa ou explicação da parte dele, e mais uma vez me decepcionei. Decidi levantar daquela mesa, pagar minha conta e ir embora, afinal eu só cometi loucuras desde ontem, por culpa de alguém que nem me conhece, e que eu fui boba demais em acreditar que o convenceria com uma carta, a vida real é bem diferente dos contos de fadas.


-Bom dia, quanto deu o meu pedido?-perguntei a moça que trabalha no caixa e enquanto ela somava, senti alguém cutucar em meu ombro

-Oi, você é a Marina?-perguntou um homem, e acho que ele era o dono do restaurante, pelo pouco que conhecia daquele local
-Oi, sou sim-disse sem entender o porque ele sabia o meu nome
-O que ela gastou é por conta da casa-ele avisou a moça do caixa-vem comigo, que uma pessoa precisa conversar com você

Ao ouvir isso, foi inevitável não sorrir, mais uma vez o meu coração acelerou e se encheu de esperança, eu sabia que era o meu irmão quem esperava por mim.

*Luan on.

Após uma moça me entregar uma carta e aparecer não sei como em meu camarim, eu confesso que fiquei intrigado, guardei a carta e se tivesse algum tempo iria ler ainda hoje. Depois de desaquecer e terminar a minha inalação, ainda recebi algumas pessoas no camarim para se despedirem de mim, Jaqueline como sempre fazia questão de cumprimentar e tirar foto com todos, além de ficar grudada em meu pescoço enquanto eu conversava com as pessoas, já falei muitas vezes para ela parar com isso, mas não tem jeito, e o que me resta é aguentar a minha namorada grudenta. Ao sair do camarim, entrar na van, e chegar no hotel, eu estava cercado dos meus fãs, e mesmo cansado acabei atendendo todo mundo de modo rápido.

-Nossa, seus fãs não te dão descanso, não bastou ter que parar a van na saída do camarim,  chegamos aqui no hotel e ainda tinha um monte querendo foto-disse Jaque tirando os seus sapatos ao entrarmos em nosso quarto
-Você sabe que sempre foi e vai ser assim, se reclama tanto é só não me acompanhar nos shows-disse me sentando na cama e tirando minha camisa
-Não exagera amor-disse vindo se sentar em meu colo-eu amo acompanhar você-beijou o meu rosto-mas agora vai tomar banho, porque ta bem fedido-disse se levantando
-Com a canseira que eu tô, da vontade só de deitar e dormir
-Mas um banho primeiro é ótimo meu amor, não quero homem fedido dormindo comigo
-É só dormir no sofá-disse rindo
-Se alguém tiver que dormir no sofá, que seja você, que quer ficar fedido
-Tudo bem, você venceu-levantei da cama após tirar os meus sapatos
-Isso ai, amo um namorado obediente-sorriu ao me ver indo para o banheiro e me despindo pelo caminho

Tomei um banho demorado, mas que me relaxou bastante, voltei para o quarto e Jaque já estava debaixo do edredom, com o ar condicionado gelando muito.


-Ta calor, mas não exagera no ar-disse aumentando um pouco e ela mexia no celular sem nem prestar atenção no que eu dizia

-Luan, porque aumentou o ar?-me olhou assim que deitei ao seu lado
-Porque tava muito frio, eu acabei de sair do banheiro, então pra mim está frio
-Para de ser fresco, odeio quando você chega no quarto e quer ficar mudando a temperatura
-Mas o ambiente tem que estar agradável para nós dois, não só para você Jaqueline
-Não tenho culpa se você ainda ta molhado e ta sentindo frio-disse pegando o controle do ar-eu gosto de bem gelado-abaixou de novo a temperatura
-Sério, ás vezes eu prefiro ter um quarto só pra mim, do que dividir com você
-E eu sou idiota né Luan?-ela riu irônica-para você ir dormir com qualquer uma e eu fazer papel de corna depois?
-Da onde você tirou isso Jaqueline? sério, não dá para ter uma conversa madura com você, que tudo é motivo para esses ciúmes bobos
-Não é ciúmes bobos coisa nenhuma, eu te conheço Luan, não posso confiar em te deixar sozinho, eu sei que você vive cercado de putas oferecidas, que se dizem suas fãs e...
-Chega-disse me levantando estressado-não gosto quando você começa implicar até com as minhas fãs, é o meu trabalho, é a minha vida, então se quer discutir por causa de seus achismos e ciúmes idiotas, fica ai sozinha

Saí do quarto estressado, e fui me sentar na pequena varanda da sacada, já estou há 10 anos com a Jaqueline, mas se contar entre as idas e vindas no nosso namoro, não dão sequer 3 anos, por conta desses ciúmes e brigas idiotas que ela sempre procura, ainda me pergunto como eu consigo conviver numa boa com uma pessoa assim. Precisava esfriar a cabeça, e até mesmo o meu cansaço foi embora, eu sabia que ela não iria ceder, já estava esgotado de sempre ser eu quem tento consertar tudo e ficar de bem com ela, mas hoje  eu não estava afim de ir atrás, então iria esperar ela dormir para depois tentar deitar na cama para ao menos descansar. Fiquei mexendo no celular deitado na espreguiçadeira de madeira, olhando minhas redes sociais, jogando alguns jogos que tenho baixados, e quando cansei voltei para o quarto e vi que a minha namorada já estava dormindo. Agora eu estava sem sono, então fui pegar o meu caderno de composições, talvez viria alguma inspiração, peguei o meu violão e levei tudo para a pequena varanda, ali estava bem aconchegante. Fui abrir o meu caderno, quando vi que caiu um papel, como eu não sabia o que era, assim que o peguei me lembrei que era a carta que recebi hoje no camarim, talvez fosse o destino que a colocou ali para que eu pudesse ler, pois eu sequer me lembrava que havia a colocado ali dentro.

"Olá Luan, eu sei que você deve receber milhões de cartas por dia, mas eu queria muito que você lesse essa até o final. Eu me chamo Marina, e depois que ler essa carta, o meu número está anotado caso você acredite em mim."

Comecei a rir ao ver que a menina colocou o próprio número no inicio da carta, eu confesso que fiquei intrigado em ler o conteúdo da carta só pela ousadia da menina, e sequer sabia que essa história iria me intrigar mais ainda. Havia uma outra carta, em um papel mais antigo junto com essa, o que me chamou a atenção, pois realmente parecia ser escrito a muito tempo atrás, então movido pela curiosidade resolvi ler ela primeiro, e depois terminaria de ver o que a tal Marina me escreveu.


"Querida filha, eu não sei se você será capaz de me perdoar um dia, mas eu não posso esconder pelo resto da sua vida, que você tem uma família, e eu não estou incluída nela. Minha doce Marina, antes de tudo, eu quero que me perdoe, e saiba que eu amo você mais que tudo nesse mundo, e por amar você, eu escrevo nessa carta toda a verdade da sua vida, e antes que se questione o porque de tudo isso, eu sinto em lhe dizer, que eu não sou a sua verdadeira mãe. Eu te amei desde o momento que te vi, mas o que eu fiz foi muito errado, e é um peso que vou carregar pelo resto da minha vida, porém eu não me arrependo de ter roubado você, pois você é tudo pra mim, e mesmo que me ache um monstro pelo o que fiz, você sempre será a minha filha amada. Tudo começou quando eu descobri que a minha filha estava grávida, pois antes de você nascer eu tive uma filha biológica, minha linda Heloísa, que trabalhava de empregada domestica para algumas famílias em Campo Grande-MS, ela era linda, trabalhadora, e o amor da minha vida, pois eu perdi o pai dela quando ela era pequena, então a criei sozinha, e ela se tornou tudo pra mim. Para cuidar de uma filha sozinha, eu tive que me sacrificar muito, trabalhei a vida toda como empregada doméstica, e ela sempre esteve comigo, então acabou aprendendo como cuidar de uma casa, lavar, passar, cozinhar, e quando tinha apenas 14 anos, já estava empregada em uma casa como doméstica. Ainda trabalhei mais um tempo junto com minha filha, quando surgiu uma oportunidade de ser faxineira em um hospital da cidade, claro que eu não pensei duas vezes em aceitar, então a partir desse momento eu não estava mais perto da minha filha, e mal sabia que o pior estava por vir. Quando ela estava com 17 anos, eu sem querer encontrei no meio de suas coisas um exame de gravidez, claro que aquilo me deixou em choque, e só depois de uma longa conversa com ela que eu descobri tudo, ela estava grávida do próprio patrão, e eu me culpava pelo o que aconteceu com a minha filha. Foram meses escondendo essa gravidez, e eu notando a minha filha cada vez mais estranha, quando um dia em que eu estava limpando um dos corredores do hospital, vieram me chamar com uma notícia horrível, minha filha estava com hemorragia pois havia tentado abortar a criança de forma clandestina. Eu perdi todas as minhas estruturas naquela hora e fui imediatamente ver como a minha filha estava, quando cheguei no quarto ela estava muito mal, não conseguia falar quase nada, porém eu consegui ouvir suas últimas palavras e entender o que havia acontecido, o patrão que a engravidou, a pagou para abortar a criança, pois não queria assumir o que fez, e a esposa dele estava grávida de gêmeos, era uma gestação complicada, e ele temia que ela perdesse os bebês por culpa da gravidez indesejada da minha filha. Foi difícil vê-la partir, e eu prometi em seu tumulo que iria encontrar quem fez isso com ela, e tirar dele, o que ele tirou de mim. Após passarem os dias que a minha Heloísa se foi, eu continuei trabalhando no hospital para tentar não pensar nela, e na tragédia que aconteceu, porém era tudo em vão. Um certo dia uma mulher deu entrada no hospital em trabalho de parto, e como se fosse o destino, eu descobri que a gestação dela era complicada e era de gêmeos, na hora eu me lembrei do homem que tirou a minha filha de mim, só poderia ser a mulher dele, então estava disposta a fazê-lo pagar pela dor que eu estava sentindo. Fiz questão de usar as minhas horas extras naquele dia, e ficar na ala da maternidade, para aguardar o momento certo de agir. Me lembro claramente de ouvir os gritos da mulher, os choros de bebê, e depois ver duas enfermeiras carregando os bebês até o berçário. Eu tinha acesso liberado por ser funcionária do hospital, e assim que as enfermeiras se ocuparam com outras coisas e saíram dali, tive a chance de ver aqueles bebês de perto, foi quando eu olhei para a mais pequena, com uma touca rosa, que chorava muito, e eu chorei mais ainda, me lembrando da minha filha que perdi, e do meu neto ou neta que nunca conheci, foi uma estratégia do destino aquele momento, pois não havia ninguém por perto, tive liberdade total em segurar aquele bebê, e num impulso, movida pela dor da perda, da raiva, da vingança, eu a embrulhei em sua manta rosa, e saí daquele hospital a levando comigo pela saída dos funcionários. Desde aquele dia, eu sabia que minha vida não seria a mesma, e que eu não poderia continuar morando ali, pois foi ali que eu te conheci, e me tornei sua mãe. Consegui vir com você para o Rio de Janeiro, pois aqui tinha uma prima minha que trabalhava para os pais da dona Vera, onde soube que ela precisava de empregada, então por aqui refiz a minha vida, e construí a sua. Me desculpa ter escondido tudo isso de você, eu sei que agi errado, mas você trouxe luz para a minha vida, preencheu todo o vazio do meu coração, e por isso Marina, eu escrevo nessa carta toda a verdade da sua vida. Eu não sei ao certo o nome dos seus pais, mas um dia talvez você encontre o seu irmão gêmeo, procure pela data de nascimento de vocês 13 de março de 1991, e a sua cidade natal Campo Grande-MS, espero que encontre a sua família e que um dia vocês sejam felizes, assim como eu sou com você. Te amo minha filha, e espero que quando você ler essa carta, você me compreenda e entenda que mesmo fazendo loucuras, meu amor é sincero por você, pois quem ama perdoa e eu só quero o seu perdão."

Estava em choque com tudo o que li, foi inevitável não deixar lágrimas cair, e não imaginar toda a cena, o sofrimento dessa mulher, mas também senti nojo da forma dura com que ela roubou um bebê inocente que não tinha culpa de nada. Tive que ler e reler aquela carta, pois pra mim não fazia nenhum sentido toda essa história, por mais que parecesse real, poderia ser algo muito bem escrito e inventado, mas o que me intrigou foi ver a minha data de nascimento e minha cidade natal no final da carta, meus pais nunca me falaram nada se algum dia eu tive uma irmã gêmea, e isso bagunçou a minha mente, pois se tudo isso fosse verdade iria causar uma reviravolta enorme na minha vida e da minha família. Ainda frustrado com a carta dessa mulher louca, me lembrei da outra que a tal Marina me escreveu, e precisava entender melhor tudo isso e o porque ela me procurou.

"Olá Luan, eu sei que você deve receber milhões de cartas por dia, mas eu queria muito que você lê-se essa até o final. Eu me chamo Marina, e depois que ler essa carta, o meu número está anotado caso você acredite em mim. Antes de dizer qualquer coisa, só queria que soubesse que eu estou feliz por ter encontrado você, não sou nenhuma fã maluca, mas admiro o seu trabalho, embora conheça a pouco tempo sobre a sua vida, sua carreira e suas músicas. Na verdade Luan, eu descobri que somos irmãos, é uma história difícil de acreditar, eu sei, mas eu sinto que é você o irmão que eu procuro, não tenho muito o que ficar falando aqui, mas gostaria que lesse a outra carta para você entender melhor essa história, desculpa se te assustei, mas eu achei que escrevendo para você, seria mais fácil de você me conhecer, pois você é uma pessoa difícil de esbarrar na rua por aí, e muito menos marcar uma hora para conversar e esclarecer tudo, afinal você é o Luan Santana, e eu sou apenas a Marina, criada como filha da empregada, professora de criança, e que mora com a melhor amiga em um apartamento para se sentir mais independente. Espero que leia com carinho tudo isso, e que um dia você possa analisar tudo isso e acreditar que nós somos irmãos."

Embora fossem poucas as palavras, pude notar sua sinceridade, e senti que deveria ligar para ela, podia parecer loucura, mas eu sentia que estava conectado a essa Marina de alguma forma, então movido pela emoção, plena madrugada, disquei o número que estava na carta e meu coração acelerou ao ouvi-la me atender. Tentei ser o mais sério possível, e acabei marcando de me encontrar com ela pela manhã no restaurante Paris 6, quando encerrei a ligação percebi a merda que eu fiz, ela poderia ser uma louca que inventou tudo isso para arrancar dinheiro de mim, ou poderia realmente ser verdade e a minha vida toda foi uma mentira, eu não sabia o que pensar, estava com a cabeça a mil e criando várias teorias sobre quem seria essa Marina. Amanheceu, e eu não consegui dormir, estava cansado, pilhado, e precisava arrumar um jeito de ir até o restaurante, pois agora que marquei com a menina, seria muita sacanagem da minha parte não aparecer por lá. Tomei um banho pensando no que iria fazer para sair do hotel sem minha namorada ou ninguém da equipe grudar em mim, seria difícil, mas eu sei dar o meu jeito. Após o banho me troquei, coloquei um óculos escuro e boné para tentar dar uma disfarçada e percebi que Jaqueline ainda dormia, saí do quarto discretamente e agora seria a parte mais difícil, sair do hotel sem ser notado, seguido ou escoltado. Peguei o elevador, e como estava vazio, liguei para o meu amigo dono do restaurante Paris 6, e fiz uma reserva especial agora de manhã, claro que inventei que era uma reunião, mas não dei detalhes. Pedi um uber, e iria aguardar no saguão do hotel, claro que seria arriscado, mas era só eu evitar ficar olhando para as pessoas, e agir normalmente, talvez era até melhor arriscar ir sozinho, pois quando estou cercado de seguranças e pessoas da minha equipe, todo mundo sabe que é o Luan Santana passando por ali. Me sentei em um sofá perto da recepção, e como ali tinha várias revistas em cima de uma mesinha de vidro, peguei uma revista e tentei disfarçar, pois percebi alguns cochichos das moças da recepção quando me sentei ali. Nunca pensei que era tão demorado para esse uber chegar, já se passavam das oito da manhã, e com certeza Marina já devia estar me esperando, quando olhei em meu celular a rota, e por uma burrice pedi um uber quase do outro lado da cidade, iria demorar em torno de 40 minutos para chegar, fora a distância até o restaurante, eu realmente não sirvo para mexer em certos aplicativos.

-Oi, você pode tirar uma foto comigo?-estava distraído mexendo no celular quando vi uma mulher se aproximar

-Oi, claro-sorri simpático, e me levantei para tirar a foto
-Tira comigo também-olhei em volta e tinha mais três pulando e pedindo foto
-Tiro sim, uma de cada vez-disse começando a me sentir encrencado
-Como você é lindo, e simpático-disse uma morena beijando o meu rosto, e quando vi ela posicionava o celular bem na minha cara
-Pronto meninas, agora eu preciso ir-disse disfarçando para sair dali
-Mas já? grava um vídeo com a gente, manda beijo-disse uma loira me abraçando de novo
-Eu realmente tenho um compromisso agora, obrigado pelo carinho-saí dali ás pressas, e com medo de olhar para trás, foi muita maluquice minha sair sozinho, mas por sorte meu aplicativo avisava que o meu uber chegou

Saí do hotel com medo de mais alguém me reconhecer, e por sorte ali estava tranquilo sem fãs por perto, pois esse era um risco que eu estava correndo, conheço minhas fãs e sei que elas ficam o dia todo perto dos hotéis em que costumo me hospedar.


-Aceita uma água?-me ofereceu o motorista, com certeza percebendo que eu estava cansado

-Aceito sim-peguei uma garrafinha de água e tomei quase tudo de uma vez
-Você não me é estranho-disse o cara me olhando pelo retrovisor
-Pareço com alguém que você conhece?-perguntei rindo de canto
-Não sei, acho que sim

Durante o caminho o motorista não disse mais nada, e foi melhor assim, já passei sufoco demais para iniciar o dia. Cheguei no restaurante, e já mandei mensagem para o meu amigo, claro que ele veio me receber, e me levar por uma entrada especial, afinal eu tenho alguns privilégios.


-Cara, muito obrigado por me ceder esse espaço hoje, a reunião que eu tenho é muito importante

-Imagina Luan, o lugar é todo seu
-Acho que a moça que eu preciso conversar já chegou, o nome dela é Marina, será que você faz mais esse favor pra mim?
-Mas é claro, vou agora mesmo ver se ela chegou

Enquanto esperava ela chegar, me sentei no sofá e fiquei roendo as unhas, sempre que fico ansioso tenho essa mania. Não demorou para que Marina entrasse ali, e ela tinha um sorriso tão lindo e largo ao me ver, que acabei sorrindo também, ela era alguém que fazia qualquer um se sentir bem em estar perto.


-Vou deixa-los a sós, se quiser fazer algum pedido é só avisar-disse o meu amigo saindo dali e nos deixando sozinhos

-Oi-disse Marina me olhando-achei que não viria mais
-Desculpa, é que eu acabei tendo alguns imprevistos-ri me lembrando-mas tô aqui muié, senta também-apontei o sofá na minha frente
-Nem sei por onde começar a falar-me olhava sem jeito
-Que tal começar me explicando sobre aquela carta, porque eu ainda tô um pouco confuso com tudo o que li
-Na verdade Luan, nem eu sei explicar aquela carta, mas eu sei que através dela eu cheguei até você, e eu não tenho dúvidas, de que nós somos irmãos

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E já começamos com mais revelações, será que essa conversa vai render? será que eles realmente são irmãos? aguardem os próximos capítulos, e quero saber o que estão achando da história, beijos.

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